Eu ainda paro com o som da tua voz. Ouço memórias que o tempo não leva de mim, sopram aqui dentro me fazendo um burburinho que me conduz para o teu espírito... Parece um fantasma Sim, um fantasma presente, um ser imortal que me segue aonde eu for... Segue-me ou está dentro de mim?
Eu me perco com o vento... Não! Eu sou o vento e você também é o vento... Estamos ao vento, como um perfume que insiste em passar por nós, despertando e aguçando os sentidos e as memórias... Memórias que não morrem e parecem estrelas que ressurgem no céu à cada noite. Mas, a noite tem mais...
Eu deito, vejo o que chega, ventos que a vida também sopra... Vivo nesta agonia de um duelo mortal entre o ego e o amor... E o amor sonha... Sonha em vida com a vida, ou no sonho da vida noturna... É vida que peleja para não ir e é gente que peleja para não deixar ir... Não deixar-se ir também!
Memórias fazem uma canção de guerra e de paz dentro de mim e a canção diz: "-Dorme, criança! Eu canto e conto que o sono chega e tudo, tudo passa e isso vai passar! Dorme,dorme criança!" E eu durmo! Sim, eu durmo na esperança de que o novo dia me diga que tudo passou com o vento da noite...
Mas, ao acordar, geralmente lembro que sonhei contigo e é estranho ver que quando não sonho, eu lembro que não sonhei... Lembro-me de ti,lembro que não estás aqui nesta casa, neste espaço, nesta cama, no meu corpo... Eu também não estou... Não estou aí, não estou contigo, mas você está em mim... Aonde estou? Aonde estamos? Quem e o que sou? Quem e o que somos? Quem éramos? Quem seremos ? Seremos ??? E o amor? Aonde está o amor? Aquele amor que nunca seria capaz de errar ou ferir, machucar, despedaçar, destruir-se com um vento qualquer e ligeiro, pois sabia aonde se agarrar para não ir junto, queria se agarrar para não se abalar e ser levado...
E a vida segue, os ventos sopram mas, não nos sopram de dentro de nós... E eu penso em ti a cada vento. É que estes ventos tem perfume, tem cheiro de ti, cheiro de amor, cheiro de saudade. E o amor é de quem? Que amor? O que é o amor? Amor ferido? É amor? Ainda é amor? Se não é amor, desde quando não é? Porque não é?
Há uma angustia, uma tristeza velada, uma máscara rasgada que ainda esconde lágrimas, as mesmas que pedem socorro são as que pedem justiça e verdade, pedem paz e pedem o amor sonhado... Lágrimas que tomam minha garganta, olhos e coração, tomam minha mente e dizem: onde está você? Porque se foi? Porque sinto esta sensação de morte em vida? Porque os ventos não te levam de tudo o que sou, dos lugares onde vivo e de tudo o que faço?
Paro com teus detalhes, especialmente aqueles novos que fluíram depois de mim na tua vida. É que você ainda tem o dom de me paralisar só de pensar em ti... Como pode alguém tão vivo , morrer em nós?
Vejo novas coisas, toco outros infinitos, mas, o seu universo está dentro de mim...É mais infinito, é mais particular... É como se fosse uma luz interior que me guia, um guardião, um guia, um anjo, um protetor...
E os ventos sopram, a vida segue, e você segue aqui no silêncio de cada dia, no mistério de cada noite, no avesso de cada sorriso, na ironia de cada dor. Você segue aqui.. É como uma semente dentro da alma... E eu me perco, pois, quem pode arrancar uma semente de dentro de si, sem que abra o seu ser , sem que se fira, sem que se corte, sem que se machuque, sem que extraia tudo o que criou raízes e alimenta-se daquilo que faz parte do meio onde está enraizado?
Extrair do coração uma semente de amor é deixar um buraco profundo daquelas raízes que se agarraram à terra da alma. Arranque, lance a semente, regue, deixe vir... Deixe nascer... Mas até lá, até a semente nova ser planta que preencha os buracos, alguém tem que viver com o vazio deixado pelas raízes arrancadas.
Quem não quer este buraco aberto tem que ter o dom matar a planta secando-a... Não haverá buraco ali... Ela murchará, vai virar pó e não haverá nenhuma lacuna. Mas, a nova semente não vinga em terra que não foi mexida pois, terra exposta ao vento e ao sol é terra seca e dura... Tem que se deixar rasgar a terra para ter leito para uma nova semente. E eu me permito rasgar a cada dia... Deixar a natureza tomar conta e me permitir ser meu próprio vento, me permitir ser semente levada por ele para uma terra onde um buraco foi trabalhado pela dor e já pronto para uma nova planta, ali eu pouse... Ou que eu seja este buraco para que uma semente encontre ninho... Espera agoniada, angustiante! Fantasma que tortura o mais profundo da alma...
E as sementes passam aqui...Estão passando... E eu também sou terra e semente que passa soprada pelo vento da vida. Mas, a sua planta também existe aqui, existe aí, há sementes nela e só não vingam pelo fato de que a terra está dura e seca em nós... E eu deixo de ser vento para ser chuva, molho toda a minha terra e quem sabe, alguma chuva molhe a sua... Nós vamos seguindo, vivendo, buscando sol suave durante o dia e sonhando alguns sonhos que aqui ainda são contigo, mas aí... Aí, não sei com quem são e até quando foram comigo...
E eu vivo! Sou agora vento e chuva tocando a terra, molhando e levando sementes... Me esbarro em outros ventos e vejo que sementes trazem... Eles não me trazem mais o passado, esse passado que sequer teve sepultura.este passado que não teve o direito de chorar seu morto antes da morte, não olhou nos olhos do moribundo e não gritou sua dor ali pelo amado que estava prestes a morrer em seus braços... Não morreu, não foi enterrado, mas por ironia é um fantasma, obscuro, cheio de perguntas e mágoas, mas, também cheio de sonhos e de luz que deseja ser maior do que as trevas que se fizeram neste inverno. Sopra, sopra, sopra, oh, vento! Quem sabe em um barra-vento encontre seu caminho e traga as sementes que nele vier, mesmo que sejam antigas? Ou já não há sementes antigas para o terreno?
Eu só sei que eu vivo.. Água ou vento, eu vivo! Vou, venho, vivo! E algo mais vive aqui ... Quando em fim morrerá? Realmente é preciso que morra? Ou será que precisa ser morto, arrancado, destruído? E a semente antiga existente, vingará? O que será que vai brotar dela? Sopra vento, sopra! Quem sabe um dia me traga alívio e liberdade? Sopra! Sopra! E quem sopra agora? Para onde sopra? Porque sopra? O que sopra? Sopra Sopra! Sopra!
Nenhum comentário:
Postar um comentário