sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O Fanatismo Florbeliano do amor que se desfez...


Amei como quem ama a um Deus!

Eu com minha alma Florbeliana, característicamente exagerada, esqueci que os mortais não sabem ser adorados. São só mortais e eu não sou os deuses antigos que podiam divinizar os seres humanos.
Queria te tocar o corpo, sempre, para te sentir meu, e de tanto venerar, só a ti via, só a ti queria, de um modo que me perdia querendo me fundir contigo como um rio que desagua no outro e se torna um, por caminho natural e necessidade vital a tudo o que traz dentro de seu leito, dentro de si.

Eu não vi que aos poucos te ias, e que a cada toque morrias, pois tuas energias eu consumia.
Era amor, o meu amor divinizado e divinizante, este amor que se tornou fanático por quem pela primeira vez me tocou a parte de mim mais inacessível: A alma, e não só o corpo.

Me perdi no teu olhar de Sol, claro como o dia onde caminhei sem medo, sereno como o fim de tarde que convida os mortais à contemplação da vida e do eu e esse teu olhar é misterioso como a lua cheia que fascina as criaturas.Me perdi na tua voz que suavemente sussurrava pedidos de amor para ti e palavras de amor para mim.
 Me perdi no teu cheiro que ainda lembro pois foi para mim apaixonante, afrodisíaco. Me perdi no teu toque suave e às vezes forte, apaixonado e às vezes meigo, toque que me fazia querer te tocar ainda mais pois me trazia vida.Me perdi no teu calor que misturava-se ao meu e ali gerava a energia do querer mais e mais... Me perdi no teu sabor que me trazia o gosto de tudo o que é bom, de tudo o que eu sempre quis.

Como não ia te adorar? Fanática, eu te queria mais, eu te queria sempre, te queria todo, te queria tudo! Te queria só para mim e quando dizias sim que eras meu, isso  tantas vezes dito, eu entrava em êxtase, como nos transes espirituais que os fanáticos religiosos tem ao alterarem de algum modo seu estado de consciência.


Minha alma Florbeliana que só soube te  amar adorando. É meu exagero Florbeliano, o amor divinizado e divinizador que Florbela espanca declama em Fanatismo: Tudo era assim, mas agora, pouco a pouco já não é mais, a cada dia se esvai, aos poucos se vai e se desfaz, em resposta ao amor divino que parece de repente ter se  tornado nada, eu não podia esperar nem um segundo, assim que percebi, logo quis saber o que se escondia nas entrelinhas de uma voz e um jeito diferente de dizer as coisas meigas que dizias, como antes dizias, tive pressa em saber, era a minha vida em jogo e não só a tua...

A vida em teus espaços e silêncios de repente a mim dados,espaços e silêncios teus que gritavam em minha alma, o inicio do fim que não suportei esperar o teu tempo de  anúncio, já que minha alma em agonia já sabia o não dito por ti, pois a intuição ensina a ler as entrelinhas dos atos sutís, percebeu que o meu amor foi por ti tornado pequeno, o amor sagrado que alguém ou algo tirou a sacralidade de repente , e ao saber disso, me senti como se o que te dei foi tornado lixo, mas sei que não és assim, sei que deve apenas ter se tornado lembranças distantes da luz do que um dia foi, como um sonho que lembras apenas partes, as partes que queres e por isso mesmo deve ser  também por mim esquecido pouco a pouco como está sendo esquecido e tornado em amizade, uma outra forma de amar, sim, é o que tem se tornado  aquilo que era o meu:

“Fanatismo” (Florbela Espanca)

Minh'alma, de sonhar-te, *anda perdida (*andava, já não anda)
Meus olhos *andam cegos de te ver! ( *andavam...)
Não *és sequer razão de meu viver, (*Foste a razão)
Pois que tu *és já toda a minha vida! (*tu eras)

*Não vejo nada assim enlouquecida...( *Não via)
*Passo no mundo, meu Amor, a ler (*Passava)
No misterioso livro do teu ser
           *A mesma história tantas vezes lida!
(*Eu lia, não leio mais).

Tudo no mundo é frágil, *tudo passa..." (*Sim, passa, está passando)
Quando me *dizem isto, toda a graça (*me diziam, pois a graça perde-se na cadência dos dias)
Duma boca divina *fala em mim! (*falava quando era divina para mim)

E, olhos postos em ti, vivo de rastros: (Olhos que já não são mais só em ti)
"Ah!  Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!..
(tu eras, já não és, já te tornei mortalmente humano e apenas amigo em meu coração e minhas memórias)."


 É que às vezes, o amor é um encontro desencontrado, mesmo tendo sido um encontro até que perdesse sua validade e seu tempo de ser.... Apenas isso, nada mais, tudo bem, tudo naturalmente bem tudo apenas segue normalmente seu próprio ciclo dentro da multiplicidade de manifestação disto que compõe a vida! Sejamos todos felizes, a vida segue adiante! E eu só abençoo o meu passado para que o presente seja iluminado pelo que aprendi, pois também teve muita coisa boa, tudo nos ensina a ser e a amar melhor!

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