quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A política que estraga o rádio: A função social do rádio-jornalismo foi perdida?

(Estrevista ao site www.portalmidia.net - em 12/10/09 - *Greice Targino).

Estando há muitos anos envolvida em rádio por ter trabalhado ou prestado serviço como locutora em algumas das principais rádios de minha cidade, é impossível não ter analisado a atividade do rádio ( e não apenas de determinada rádio) e do jornalismo não só em Guarabira, mas no Estado da Paraiba.

O rádio tem um caráter educativo, o entretenimento, a informação, mas percebo também que o rádio em nossa região apresenta uma característica que vai além do que deveria ser: a crítica isenta de ideologia partidária, a transformação de notícias em discursos que sirvam a grupos políticos, e neste caso, me refiro ao exercício de alguns jornalistas. Sei que todos temos identidade e o direito a opções, mas em nossa região e em outras, as rádios estão vinculadas a grupos políticos que detém a sua concessão. Deste modo, tais grupos tem em mãos um instrumento de comunicação muito poderoso, o rádio, que com outros meios de comunicação representam “O Quarto Poder”. A relação destes grupos políticos com o rádio é bem percebida no jornalismo.
Os meios de comunicação tem um papel importantíssimo no debate de idéias e formação da opinião pública. Deveriam estar compromissados com o combate às desigualdades sociais e salvaguardar os principios democráticos, o direito a expressão livre, a defesa do cidadão e não apenas dos interesses do grupo político ao qual se vincula. Mas, estando compromissados com os interesses de grupos políticos, os meios de comunicação, e no caso, o rádio não exercem sua função social de modo livre e pleno, sendo assim, qualquer meio de comunicação utiliza o poder de persuadir-nos a pensar o que querem e do modo que determinado grupo político pensa. O rádio descompromissado com a sociedade passou a ser instrumento de manipulação de massas e nele, há muitos palanques políticos armados, algumas VERDADES expressas e outras ‘ ‘verdades’’ fabricadas em defesa de seus donos, por meio do espaço jornalístico destas emissoras.
Qual a credibilidade de um jornalista que deixa a ética-profissional e permite-se ser subordinado pelos interesses de treceiros ? Onde está a sua imparcialidade e neutralidade ? A sociedade não sabe que esse tipo de jornalista, não a defende verdadeiramente e sim, defende um grupo, uma Elite. A sociedade não sabe também que esse tipo de jornalista só a defende, se o que essa sociedade tem a dizer estiver de acordo com os interesses políticos do grupo que detém a consessão da rádio, ainda mais se o que os cidadãos tem a dizer puder contribuir para o descrétido da imagem do grupo político opositor, o que atenderia ao jogo que está por trás da disputa por hegemonia. A sociedade não sabe que muitos jornalistas não passam de meros emissores de ideologias de determinado bloco partidário.
Compreendo sim que estes ‘’jornalistas ‘’estão trabalhando por seus salários, o que é digno, mas, não é digna a atuação destes profissionais que não passam de ladrões da opnião pública, banalizando seus ofícios, desonrando a imagem do verdadeiro profissional do rádio e do jornalismo.
O cidadão que não conhece completamente a conjuntura interna do rádio-jornalismo, não sabe que o compromisso destes meios de comunicação e de alguns profissionais não é com a defesa social ou com a luta contra as desigualdades, a denúncia do mal exercício da atividade político-administrativa e sim, com as alianças feitas entre determinado meio de comunicação e o bloco político ao qual ela pertence. Rádio não deveria nascer a partir de conseções cedidas a políticos. Isso é corrupto e certamente, atenderá a elites políticias, o que certamente posso associar a uma nova face da prática coronelística, já que a disputa pelo poder político se fortalece a partir do serviço que o rádio tem prestado a estes grupos quando hábeis jornalistas defendem muitas vezes políticos corruptos em seus discursos radiofônicos e até em outros meios de comunicação, conferindo a estes políticos o apoio de cidadãos simples, que não dispondo de uma base crítica e intelectual mais favorável, acaba sendo influenciado por verdades fabricadas, verdades com ‘v ‘ minúsculo.
No Brasil, muitas vezes, o político corrupto de ontem, de repente é tornado herói, já que alguns jornalistas influentes contribuem para que o povo seja enganado novamente. E não é só o povo simples não. Muitas vezes, a alta sociedade também se deixa levar pela influencia de certos profissionais da imprensa. E o povo que precisa de educação, saúde, liberdade política, independência econômica, ações governamentais efetivas a seu favor, termina tomando por verdades tais opniões destes jornalistas vendidos que, descompromissados com a sociedade e a função social do rádio, defendem idéias partidárias que exaltam facções políticas igalmente descompromissadas com o povo e compromissadas apenas com seus gordos salários e muitas vezes com ações de desfalque ao dinheiro público ; políticos, meios de comunicação e jornalistas que em suas alianças e seu jogo de interesses, não mudam o país, o Estado, a cidade, a vida dos cidadãos. A maioria destes, estão compromissados sim, mas com a mudança de vida deles próprios.
E o povo... Continua ouvindo promessas e defesas nem sempre realizáveis e justas... O povo continua dando-lhes audiência, pnsando que o que dizem é verdade. Nem todos os cidadãos conseguem perceber a articulação interna do rádio-político, e deste modo, recebe informações e opniões manipuladas pela vontade do grupo. O rádio-jornalismo deveria mediar e cobrar os relatos dos governantes em respostas a questões do povo por eles governados.

Quando o rádio-jornalismo for independente, o povo terá o seu espaço de expressão, bem como a possibilidade de pensar o mundo e o social a partir de sí mesmo e não por ideologias que se espalham sutilmente através da força e influência que o rádio tem pois o rádio pertence ao "Quarto Poder": a comunicação, que influencia e até pode formar a opinião pública. Utilizemos este “Quarto Poder” de modo responsável, profissionalmente ético e compromissado com a sociedade, a democracia, a liberdade e a cidadania. Se parece utopia, caros jornalistas e radialistas, reflitam seus papéis e seus atos neste mundo. Se seu exercício não é digno de credibilidade, se é corrompido por alianças, posso dizer que isto envergonha os meios de comunicação, o que implica dizer também que envergonha a mim e a outros radialistas e trabalhadores dos diversos meios de comunicação existentes neste país.

Maria das Graças Dias Targino. (* Greice Targino)

( Radialista: Reg. Prof. nº 2.670-D.R.T.-PB e acadêmica de História-U.E.P.B. C. III)

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